quarta-feira, 23 de setembro de 2009

HISTÓRIAS DE FAMÍLIA - MIRIAN




A Mirian, filha do tio Henrique, depois que ficou viúva, de vez em quando vem a São Paulo. Apesar do irmão, o Pedrinho morar por aqui, costuma hospedar-se na casa da tia Esther.

A nossa família é caracterizada por pessoas, como vamos dizer, “um pouco atrapalhadas”. O tio Dante era assim, a Mirian é assim; a Cida minha irmã é assim e, a tia Esther, é a rainha das atrapalhadas. Talvez por isso as duas se davam tão bem.

Um dia, nestes em que a prima passeava por Sampa, o Pedrinho ligou para a casa da Cida (na tia Esther não tem Telefone) comunicando que a sua sobrinha de Florianópolis (filha do Luiz Henrique) mais o marido, viriam passar uns dias em sua casa no bairro da Casa Verde.

Devido a distância que nos separam a todos essa era uma das raridades para conhecê-los. Como não fui convidado, não fui, mas a dupla Mirian-Esther ficaram radiantes de alegria pelo convite e se prepararam para o encontro.

No dia marcado(na casa da Cida) ligaram para o Pedrinho para acertarem os últimos detalhes.

CENA: Na sala estavam a Mirian ao telefone falando com o Numar (filho do Pedrinho), a tia Esther controlando a conversa e, a Cida marcando em um papel o que a Mirian transmitia.

CONVERSA: -...sabe Numar, nós temos de tomar o metrô e descer onde? ... Ah! Na Barra Funda! - Anota aí Cidinha! - Descer na Barra Funda, e esperar você? - Vai anotando Cida! - Você vai estar com o que? Ah! Um gorro azul celeste... gorro azul celeste Cida!

Tia Esther: - Anota tudo direitinho Cidinha senão a gente se perde!

Cida: - To anotando tia! Pode deixar!

Mirian: - Olha Numar! Eu estou com uma blusa branca com umas coizinhas pretas! Tá bom? - Nós vamos pegar o metro às treze horas, no máximo treze e trinta estaremos na Barra Funda! Um beijo!

E lá foram as duas. Pegaram o metro e chegaram no horário. No terminal da estação dirigiram-se para o terminal dos ônibus e começaram a procurar o rapaz de gorro azul celeste.

Dez minutos e, nada. Meia hora e, nada ainda. Uma hora e, nadinha dele aparecer. Ninguém com o gorro azul celeste.

Foi então que a Mirian resolveu abordar algumas moças e perguntar, se fosse com elas, onde marcariam o encontro? Contou detalhadamente o ocorrido e esperou uma resposta.

- Olha! Se é como eu entendi, eu esperaria na avenida que fica do lado de fora do terminal do metro! Vocês vão ter que sair daqui para ir para a Casa Verde, não é? O melhor seria mesmo do lado de fora!

Havia um pipoqueiro por perto – Meu senhor, eu vou ter que sair até ali fora! Se por um acaso aparecer um rapaz com um gorro azul, diz que a tia dele já volta! Me faz esse favor pelo amor de Deus!

Agradeceram e depois de perguntas e informações daqui e dali chegaram na tal avenida. Uma olhava para um lado, a outra para o outro a procura do moço de gorro azul celeste.

O que se entende é que nem elas conheciam ele, nem ele as conheciam.

Mais vários intermináveis minutos e, nada, nadinha.

De repente um rapaz que já estava por ali pergunta: - Tia Mirian? A senhora não é a tia Mirian? Eu sou o Numar, to esperando vocês a mais de uma hora!

- Nós já estamos aqui a mais que isso! Você disse no terminal de ônibus e que vinha com gorro azul celeste! Cadê o gorro?

- Não tia! Eu disse fora do terminal e que vinha de Gol azul celeste! Gol azul celeste! Meu carro, é um Gol azul celeste, entendeu?

- Desculpe Numar! É que eu sou tão atrapalhada!

Não sei bem, mas acho que o encontro familiar na casa do Pedrinho foi normal.

Raul Claudio Baptista - Setembro de 1996




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