quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Martins

Is better to "remain heavy as I am. Ever wonder what pleasure can give Robby, "Arrombertinho" I'll have to figure but I delete depop circuitry you read.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

THE IRRESISTIBLE OLD MAN

Raul Claudio Baptista


I have to make arrangements. My wife, Roseli insists that I do not ever stop. To play I say: Love, women do not love me anyway. If I lose weight too, alas will grab me in the street. As this is a joke smile always. Today, seeing that had increased my weight, I decided to walk even looking at the clock that marked midnight. My city is small and I see no danger in walking at midnight.
Well, I went outside started walking, I saw a place with many ornaments of Santa Claus. I stopped for a while and when I walk, trea girls asking me about the schedule. Said. twenty-five minutes AM. One of them asked me: Do not you love to do? Om even a blowjob? Of course I said no. They went, I was stunned. I walked a mile back to my house. My wife was in bed reading the Bible. I jokingly said, "You always look at what I mean? It was just leaving, even after losing a few kilos girls do not give me peace. We laughed a lot, I take a shower and went to sleep.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Infartado


O INFARTADO

Engraçado o título do meu blog, “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”. Ele se justifica quando de repente por algum motivo, uma coisa qualquer me faz lembrar de um ocorrido e fico louco para transformar a lembrança em texto e não esquecer o fato.

Agora pouco, uns trinta minutos atrás, fui trocar o óleo do meu carro e o mecânico me alertou, quando tirou o adesivo do para brisa, que eu tinha rodado 20.000 km com o óleo para 10.000 km. Eu havia confundido os adesivos e fui rodando. Ofereceram-me um café e o serviço começou.

Mecânica, auto elétrico, borracheiro é um saco. Onde você coloca as mãos saem sujas de graxa e não tem o que fazer.

- Seu Raul, é bom trocar o filtro também porque, sabe comé, vinte mil... deve tá bem porco! Consenti, ele tinha razão.

Haviam vários carros na oficina, entre eles, no elevador, uma ambulância da prefeitura da cidade. Um Fiat Fiorino, que com as portas de trás abertas mostrava a maca e todo “conforto” daquele minúsculo transporte.

- Podia ser ela! Falei em voz alta. A amiga e dona do estabelecimento ficou curiosa com minhas palavras. Então expliquei: - É que uns quatro anos atrás, num dia calmo e tranqüilo eu e a Roseli minha mulher, fomos à farmácia do Zé Basílio e ela cismou em fazer o que a maior parte das pessoas de Monte Santo de Minas fazem nas farmácias: pedir para medirem a pressão arterial, é de graça. Eu confesso que detesto fazê-lo porque aprendi que o certo é a pessoa estar sentada, por pelo menos por cinco minutos, respirar fundo e aí sim fazer a medição, caso contrário ela é variável pra mais ou pra menos. Você está se movimentando, por vezes ofegante, cansado. Dito e feito, marcou 18 por 9. A Roseli apavorada queria que o Zé colocasse debaixo da minha língua um remédio em cápsulas (Adalat de 10mg) o qual você fura com uma agulha e espreme o líquido sob a língua regularizando melhor e mais rápido a pressão.

O farmacêutico disse que não tinha autorização para fazer aquilo e que nós fossemos à “magnífica” Santa Casa onde no Pronto Socorro cuidariam de mim.

Mais um deslocamento, deixei o carro um pouco longe, uma pequena caminhada, tiram a pressão; vinte por nove, tiram novamente; dezenove por dez. Preocupados fizeram que abrisse ficha e fosse examinado pela Dra. de plantão. Vou omitir o nome.

Alguma perguntas, olhares para os lados, mais perguntas ordena que a enfermeira fizesse um eletrocardiograma.

Estava agora em uma outra sala, sentindo-me muito bem. A enfermeira levou o eletro e fiquei sozinho por um tempo.

A Santa Casa é freqüentada, em sua maioria, pelo menos no pronto socorro, por moradores da zona rural. Você, ao passar nos corredores, vê diversos leitos preenchidos por pessoas idosas, encolhidas e em silêncio.

Bem. Ao meu leito volta a enfermeira, agora já com uma expressão de piedade, pede que eu tenha calma, não fique nervoso. Pega meu braço direito e começa a esfregar com suas mãos, um gesto que entendi como carinho.

Entra minha mulher e como a enfermeira repete os mesmos gestos pedindo que eu tenha calma. Por fim a Dra. fazendo a mesma coisa. Foi o único momento que fiquei preocupado. Porque todo esse carinho? Que estava acontecendo?

Diz a médica - O Sr. está tendo um infarto!Há algum cardiologista de sua confiança?

Indiquei o Dr. Pedro Paulo de Mococa, cidade vizinha o qual é o meu médico tanto para assuntos do coração como também clínico geral que cuida de mim e de minha diabete.

Pediu que me comunicasse com ele e que iriam remover-me em uma ambulância.

Enquanto providenciavam tudo fiquei pensando: Mas será isso o tal enfarto? Algo tão suave que eu nem percebia? Definitivamente comecei a duvidar do diagnóstico.

A Roseli pálida só me observava. Agora eu é que pedia calma dizendo que não estava sentindo absolutamente nada.

Pela porta entram agora, um homem empurrando uma cadeira de rodas, uma outra enfermeira e com as pessoas que já estavam presentes incluindo eu, éramos sete. Todos colocaram suas mãos em algum lugar do meu corpo para ajudarem a me sentar na tal cadeira. Eu queria ir sozinho, todos me pediam calma.

Fui conduzido até a porta do P.S. e colocado na ambulância, que podia ser “aquela”. A Roseli em pânico acomodou-se ao meu lado. Devia ser a primeira vez que ela entrava em uma ambulância e eu podia adivinhar seus pensamentos: “ A gente vive pedindo para ele se cuidar que um dia tinha que acontecer”. Na frente o motorista e uma enfermeira. Fecharam as portas da parte de trás e eu tive que encolher as pernas. Partimos.

Deitado, procurei acomodar melhor as pernas e para nossa surpresa as portas se abriram e quase acabei caindo. O carro para, fecham a porta e prosseguimos.

A maca tinha 1,70m e não sabia onde colocar os 0,10 cm que sobravam. Sentia-me como se estivesse naqueles carrinhos que correm esportivamente naquelas canaletas de gelo. Vi pela televisão várias vezes essa prática esportiva. Uma duas ou mais pessoas vão deitados no carrinho a toda velocidade, a cada curva são jogados para os lados, só levantam o pescoço como que numa defesa pessoal pudessem ver a tragédia que poderia acontecer e por vezes, acontecem.

Vou acalmando a Roseli afirmando não estar sentindo nada e me sentindo muito bem. Para distrair-me conforme os solavancos, vou dizendo ao motorista cada lugar que estávamos. Era noite, não via nada e de Monte Santo a Mocóca não errei nenhum.

Finalmente chegamos ao Hospital Santa Casa da cidade. Abrem as portas e aquele povo que fica perambulando em P.S. formam um aglomerado considerável. Cada paciente chega com cinco ou mais acompanhantes. O doente entra para se tratado e o resto fica sem saber o que fazer, fumando, batendo uma prosa e invariavelmente o assunto é doença.

Vieram no mínimo quatro pessoas para me tirar da ambulância. Por minha vez, resolvi descer sozinho sentei em uma cadeira de rodas e fui para um dos quartos do P.S.. Lá já encontrei o Pastor Luiz Henrique e meu primo Beto o qual chamo carinhosamente de Carlos Alberto Francisquini. Deitaram-me na maca e esperamos o meu médico, Dr. Pedro Paulo, cardiologista e morador e clínico de Mococa. Em alguns minutos chega o Dr. Olha para mim e diz:

- E aí Raul! Será que desta vez vou ter que te infernar? Trouxe o eletro? – Alguém passou para ele. Olhou, olhou, olhou e veio me examinar. Tira a pressão, escuta o coração, manda tossir e diz: - O coração está normal, a pressão está normal, o eletrocardiograma está normal, você não tem nada! Quem te mandou aqui? Foi um alívio geral e risadas nervosas. Menos a minha pois tinha certeza que não tinha nada.

- Não foi desta vez, disse o dr.! Um abraço Raul!

Coisas de Monte Santo e da Santa Casa que desta vez pecou por excesso e não por escassez. Para mim foi um ensaio de uma peça que jamais vou querer protagonizar.

Raul Claudio Baptista

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A MORTE DO LOMBARDI DE VILA MATILDE

Monte Santo dia 02 de dezembro de 2009-12-03

A morte do Lombardi de Vila Matilde.

Lá por 1982, 83, 84, freqüentava o largo da Toco em Vila Matilde. Ficava fazendo hora na agência de automóvel do meu amigo Ramon. A Padaria do largo (não lembro o nome) era de um português. Nós tomávamos vários cafezinhos, comíamos pizzas que saiam a toda hora. Eu, para alegria de todos, imitava o Lombardi do Silvio Santos. Era tantas vezes que todos os funcionários e o próprio dono me chamavam de Lombardi. As distintas donas de casa que vinham buscar o pão ouviam e me olhavam deslumbradas. Um dia escutei uma dizer a outra em voz baixa: - Esse que é o Lombardi!!!! Como o rosto do verdadeiro Lombardi era um mistério acho que para sempre, durante muitos anos ficaram com a minha imagem. Quando O Lombardi fala na TV elas diziam: - Eu conheci o Lombardi, era da Vila Matilde. Hoje, junto com a morte do verdadeiro ou fui revelado ou minha imagem morreu junto com ele.



quarta-feira, 21 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Veja no fim da tela: "Postagens mais antigas"


A VOLTA DO COMETA




A nossa turma de amigos de infância, se encontra anualmente há vinte anos. Chama-se “Turma do Largo”

De vinte ou trinta componentes iniciais (os verdadeiros) hoje são mais de cem. Passei uma peneira naquela massa, separei os grande amigos e começamos a fazer um outro encontro numa chácara em Sorocaba. O texto é cheio de metáforas e espero poder ser compreendido.


O céu estava carrancudo, coberto de nuvens que desabavam vez por outra molhando toda a terra. Parece que isso começava a tornar-se uma constante. Era o Square Group que aproximava-se.

Depois de um breve estudo sobre o que estava acontecendo, depois de eu começar a lamentar que o céu encoberto não nos deixaria ver o espetáculo de sua passagem é que percebi o que de fato ocorria.

Mesmo sem entender de astronomia, mas sentindo os impulsos em meu coração, em dado momento, senti e vi seus elementos de composição. Concluí que ele não passaria no universo perto do sol nem próximo da terra. Ele estava era dentro de sua atmosfera. A idéia loucamente romântica de ver novamente seus componentes misturados às gotas de água que caíam, confundiam-me a ponto de não saber se estávamos no solo ou num “Pedacinho do Céu” qualquer, se éramos a massa ou sua calda reluzente, se a música que ouvia era tocada por anjos ou vinha de um “três em um” que eu julgara ligado à rede elétrica. Nós éramos o Cometa agora. Havíamos sidos incorporados novamente em suas estruturas e por três dias deslumbraríamos os que tem a capacidade de observar, sentir e principalmente... amar. Vê-lo, não é uma atividade física ou mental. Ele habita outra dimensão que só os que estão preparados podem atravessá-la. Agora éramos astronautas incomuns, que preparados por trinta e cinco anos na amizade capacitaram-se para esse tipo de aventura. Percebi que ali estavam uma mistura do corpo celeste, tripulantes e nave espacial formando o ESQUARE GROUP, O COMETA.

Aos que não fazem parte dele, sabem de sua existência mas não conseguem vê-lo, vou procurar relatar sua nova aparição sem ser repetitivo, visto tratar-se de uma trajetória quase igual a primeira, não fosse o acontecimento de algo incomum juntando-se a nós, vindo do céu.

Estou emocionado e não consegui dormir de sexta para o sábado. O Enio e o Carlinhos enriqueceram sobremaneira a nossa turma. O Miguel é o nosso pai. Tem tanto carinho com todos a ponto de beijarmos sua bochecha pelo menos duas vezes ao dia. Algumas pessoas exprimem mais seus sentimentos, outros são mais reservados. Alguns cantam mais, outros bebem mais, outros falam mais. As músicas são trocadas em quantidades absurdas, tal a euforia de cada um querendo tocar suas preferidas. A cada - Essa é linda! - o volume é aumentado e nós vamos conversando, falando cada vez mais alto. Gradativamente vou ficando rouco.

São onze e trinta, o Gilberto e o Zé da Farmácia foram a Sorocaba comprar as carnes, a churrasqueira ainda não foi acesa. O Veronezzi falou comigo ao telefone sexta pela manhã afirmando seu comparecimento dizendo levar junto o Quevedo.

De repente o som de um helicóptero me faz vir a mente cenas do filme de 1979 de Francis Ford Coppola “Apocalypse Now”. Os soldados entrincheirados no Vietnã escutam as pás do aparelho aproximando-se para salvá-los. O som vem num crescente, as árvores que os rodeiam balançam mais fortemente e numa tomada de camera a partir do solo surge magnificamente o helicóptero. O som vai ficando ensurdecedor, o vento das hélices parecem arrancar o próprio chão. Vem descendo, balançando a cauda como que medindo as dimensões do campo de pouso, para finalmente colocar suas bases em terra firme.

Não éramos os soldados, mas nossos êxtases ao vermos sua descida talvez tenha sido muito semelhante. Foi quase indescritível o que sentíamos quando vimos descer do aparelho, o Veronezzi. Não que nunca tivéssemos visto um helicóptero, eu mesmo já havia voado muitas vezes. É que jamais esperávamos que ele chegasse dessa forma. Eu o havia convidado há vinte dias e apesar de seus últimos telefonemas eu não tinha tanta certeza. Ele estava honrando um compromisso. Ele era um de nós que deu muito certo, e em cada um havia estampado um orgulho, como se tivéssemos contribuído em uma parte para o seu sucesso. Era também o nosso único amigo que possuía tal meio de condução. Muitos antes, também tiveram sucesso, mas ao adquiri-lo, não nos deram a chance de compartilhar-mos.

Realmente não sei se conseguirei descrever aquele momento. Só mesmo o Esquare Group foi capaz de proporcionar esse momento inesquecível.

Nosso companheiro, acostumado a tantas badalações, emocionado também, mais parecia um garoto mostrando aos seus amiguinhos a bicicleta que ganhara do Papai Noel. E é claro, todos nós queríamos dar uma volta e umas pedaladas. Fomos atendidos sem precisar pedir. Foram três ou quatro decolagens nos tirando daquela dimensão para estourarmos de saúde e alegria no céu como um pássaro dono de seu próprio destino. A linha do horizonte tornou-se ainda mais distante para melhor sentirmos os tamanhos da nossa velha terra. Muitos puderam perceber exatamente o que torna a dimensão que vivíamos tão diferente do mundo exterior. Não sei. Mas é qualquer coisa que a gente nunca esquecerá.

Na terra, a mistura de nossas vozes, o crepitar do carvão, a música de fundo, as risadas, as gargalhadas, as tagarelices... E tudo isso se funde no ruído da liberdade, algo que nunca se ouve até que deixa de existir.

A tardinha, o Veronezzi pede ao comandante que ligue o aparelho para mais uma decolagem. Nela iriam os que ainda não tinham voado, as filhas do caseiro da chácara vizinha, duas meninas que mau andavam de carro, eu recusava ir pela segunda vez confessando medo do pouso e da decolagem.

O helicóptero voltou trazendo os alegres tripulantes, não desligou seus motores nem o comandante desceu. Sentimos que era a hora da partida.

O Veronezzi pediu para que nos reuníssemos num círculo de mãos dadas. Ao som distante da nave que o levaria, disse:

- Eu amo todos vocês! Obrigado por vocês existirem! Pelas nossas amizades duradouras eu quero agradecer a Deus na oração do Pai Nosso! Não vou esquecer esse dia! Nos veremos dia quatorze de dezembro novamente, não vou faltar! Deus esteja com todos vocês!

Rezamos, nos abraçamos, nos beijamos e sem que ninguém falasse mais nada o acompanhamos até o helicóptero. O motor girava a não sei quantos giros por minutos, já pronto para a decolagem. O Veronezzi sentado no banco traseiro apertava suas duas mãos contra o coração e as estendia apontando repetidas vezes para cada um de nós.

A ventania tornava-se novamente violenta tal a proximidade nossa do aparelho. Ele levantou, ganhou altura, distanciou-se uns três quilômetros da chácara, virou e passou novamente por nós num vôo razante e a toda velocidade. Era a saudação que os aeronautas costumam fazer na partida.

Caminhamos em silêncio para a churrasqueira, nossa base de alimentação e suprimentos, profundamente emocionados. Havia uma comoção geral. Nos dividimos em grupos e não pude escutar o que diziam. Num canto da parede, sentados, vi o Enio, o Tatuzinho e o Miguel chorando. Eles limpavam as lágrimas que corriam de seus olhos. Não sei o que os levou a tal procedimento nem quis perguntar.

“Há poucos seres no mundo que não possuam de qualquer maneira certo anseio espiritual, o sentimento íntimo, não formulado embora, de que existe uma Força Suprema para a qual se volvem instintivamente.”

O Veronezzi nos colocou bem perto dessa Força, desse fenômeno espiritual que nos estende as mãos, nos coloca mais perto do Criador e através do amor, em momentos extremos somos levados ao sentimento da maneira mais intensa. O momento foi o da mais pura amizade.

Pude retratar-me olhando fixo as pessoas e avaliar meus sentimentos sobre cada um. Diferenciei os que ali estavam apenas para se divertir não importando a companhia. Apenas desfrutavam de uma festa como outra qualquer e nela passavam o tempo. Vi nos olhos de outros o verdadeiro motivo do encontro em que a festa era apenas um mero complemento para embalar sua vontade de matar a saudade dos velhos e queridos amigos.

No domingo, as nuvens foram dissipando-se e o Cometa começou a ir embora. Aos poucos seus elementos hesitantes iam se diluindo, evaporando, formando uma grande massa de nuvem negra que desabou sobre a terra com a saída dos últimos. Suas águas não conseguiu apagar as pegadas que deixamos no solo e ainda paira no ar de Sorocaba o ronco do helicóptero. Nas gramas amassadas dos pastos pode se ver os cristais de gelo da cauda do ESQUARE GROUP.

Por Raul Claudio Baptista



Antônio Veronezzi é dono e reitor da UNIVERSIDADE DE GUARULHOS - SÃO PAULO

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Calico – Deserto de Mojave



Descobri Calico no caminho entre Los Angeles e Las Vegas, em pleno deserto de Mojave. Diversas cidades americanas surgiram no oeste durante a chamada Corrida do Ouro da California, quando lá foram descobertos ouro e prata. Calico foi um destes lugares, e chegou a ser a maior mina de prata do sul da California. No primeiro ano da Corrida da California, cerca de 250 mil dólares em ouro foram extraídos do solo, uma soma assombrosa para valores da época. No seu auge, Calico teve 3.500 habitantes, uma população considerável levando em conta sua localização, no meio da terra de ninguém do deserto de Mojave, quase na divisa entre os estados da California e Nevada.

Calico tinha casas, lojas, escola, corpo de bombeiros, capela e tudo mais, inclusive Chinatown, o seu bairro chinês, onde moravam os 40 trabalhadores chineses da mina que existia nesta cidade. A cidade também tinha, é claro, um saloon, dirigido por uma certa madame De Lill, dama de reputação não muito lisonjeira....

Não espere encontrar muita beleza natural nesta parte da California. Tudo em volta é um deserto só, uma terra completamente sem atrativos, marrom e seca. Se alguém ainda passa por aqui é apenas devido à proximidade da auto estrada A15, que liga Los Angeles à Las Vegas, e dos dois grandes outlets - malls de ponta de estoque existentes na cidade de Barstow, não muito distante de Calico, e que atraem muita gente, turistas inclusive. Aventureiros à procura dos lugares perdidos do deserto de Mojave também são visitas freqüentes da cidade. Reparem no alto do morro que aparece com o nome Calico pintado com letras brancas. Dá para ser visto da A 15.

Quando a prata que era extraída da mina de Calico acabou, a cidade foi praticamente condenada à morte. Não havia mais nenhum motivo para alguém continuar morando neste fim de mundo. A cidade foi abandonada, esvaziou e morreu. Ficou esquecida durante muito tempo, até ser novamente redescoberta e transformada num tipo de atração turística ao estilo do velho oeste. Hoje Calico é uma das poucas cidades fantasmas americanas que, pode-se dizer, renasceu. Diversas pessoas visitam a cidade todos os dias, e principalmente aos fins de semana acontecem shows onde artistas encenam duelos em suas ruas empoeiradas. Há também passeios de carroças e outras atividades típicas daquela época.

De uns tempos para cá as construções de Calico foram restauradas, mantendo-se suas características originais. Agora é novamente possível fazer compras na loja de suprimentos, uma refeição no restaurante local, e sentir o clima de estar numa autêntica cidade do velho oeste americano, com a diferença de saber que aquilo não é apenas mais um parque temático artificial, mas sim uma cidade verdadeira, com muitas histórias para contar.

O oeste americano tem uma imensidade de cidades fantasmas, algumas que nem constam dos mapas, outras que constam mas não tem qualquer atrativo, restam apenas escombros. Calico é sem dúvida uma das mais interessantes. Quando passai por lá a caminho de Las Vegas já era final da tarde, e poucas pessoas ainda caminhavam pelas ruas. Apenas o vento nos acompanhou todo o tempo, o que tornou nossa visita ainda mais instigante.

A própria localização da cidade, em pleno deserto, rodeada por morros de pedra avermelhada, e com o vento sempre soprando, são um convite a deixar nossa imaginação viajar por aquelas ruas, e nos dão a estranha sensação de que alguém nos espreita por uma janela.

Calico fica apenas a duas horas de carro de Los Angeles, três milhas ao largo da auto-estrada I-15, principal ligação de LA com Las Vegas. Se você estiver passando por esta região, preste atenção quando se aproximar de uma cidade chamada Barstow. O acesso até Calico é feito por uma estradinha secundária, que começa 6 milhas depois de Barstow, no sentido de Los Angeles para Las Vegas. É uma visita interessante, e que vale a pena ser feita.

TORTA DEMORADA


Raul Claudio Baptista


Inspirado no Massimo, de Massimo Ferrari na Alameda Santos, o Minnimo, de Minnimo Minardi na Vila Aricanduva é um luxo.O Minnimo pensou em tudo. No fundo de sua casa situada na rua Projetada, sem número, fundos, ele construiu com blocos de cimento, um restaurante que é uma gracinha. Seis lugares, (duas mesas com tres cadeiras); fecha no almoço das 12:15h, e abre das 19:20h. O estacionamento é para um veículo e só serve para carga e descarga de passageiros. Como é a única edificação da rua, você pode estacionar tanto na própria rua como nos terrenos baldios vizinhos. O telefone de recados é o 999-4768. O cardápio é farto e varia de acordo com que a familia come no almoço. Nas mesas, toalhas de Linholene e decanso de panelas quentes, de galalite. O piso, de vermelhão encerado, é ricamente forrado com folhas de jornais do dia, o que possibilita aos frenquentadores jantar e ler as últimas notícias. No canto oposto da entrada, um magnífico Rádio-fonógrafo Victrola com mudança de disco “Roll-out” (sistema expelidor) com capacidade para discos de 25cm e 30cm, toca as músicas e alegra o ambiente. A cobertura do telhado é de telhas de cimento amianto, o que torna o ambiente quente e gostoso. Quem inventa os pratos é Dona Minusculla, esposa do Minnimo. Possui trinta brochuras com receitas inéditas, que resolvemos editar em livros e passá-las aos nossos leitores. A de hoje é:

TORTA DEMORADA

Depois de ler a receita espere 15 dias para começar.

COMEÇO

Fazer a massa de Torta Rápida e deixar parada por seis dias até atingir o X (para saber qual é o ponto X, escreva para Caixa Postal 6743 e espere a resposta).

Agora que você já sabe qual é o ponto X, unte uma fôrma triangulada com manteiga desnatada e espere derreter naturalmente (geralmente ela derrete num dia bem quente). Depois espalhe-a sobre a fôrma e coloque a massa. Recheie com a receita nº 67 do livro que lançaremos em meados de abril do próximo ano e leve ao forno depois de usar os segredinhos da receita nº 9 da primeira edição do “ Livro de Receitas de Dona Benta” de 1951. Para sentir todo sabor da torta, coloque-a em forno frio por 2 horas. O sabor é incrível! Procure provar!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

ALGUNS VERSINHOS DO MEU PAI

òleo sobre tela - Raul C. Baptista

Raul Baptista

Custô mas conseguiu a Teresa

sê muié de sordado!

Ela gosta de ficá presa

nos braço do seu amado!



Há tantas lombadas nessa cidade,

que em caso de guerra, servirão de abrigo.

O povo terá facilidade,

de se esconder do inimigo.



O pai da Conceição

acabô de fazê bestera.

Ponhô um lampião

bem em riba da portêra.



Destes tanto leite às criancinhas

mas, malditos te arrancam o couro.

Quando te faltar o leite vaquinha,

teu destino é o matadouro.



Fui visitá a cumadi

cum a mió das intenção.

Di longe avistei o cumpadi

i vortei num carrerão.



Da inté vontade de da risada

quando Nha Rita bate pilão.

Os peito dão uma impinada,

i na vorta bate no chão.



O sujeito entra no prédio com toda proteção.

Vai direto para o seu aposento.

Era apenas a Casa de Detenção,

era apenas mais um detento.

PARA MEU FILHO EMERSON


Quando você me olhava com aqueles olhinhos verdes, não me largava de jeito nenhum, pude pela primeira vez descobrir o sentimento desconhecido de uma criança. Amar sem saber o que era aquilo. O teu sentimento foi sempre sincero, sem haver fragmentos, por muitos anos até sentir o que eu sentia naquele tempo. Hoje você é pai e entende o que estou dizendo. Olhe bem nos olhos de seu filho para lembrar o amor mais puro do mundo: O amor puro e incorruptível de uma criança. Aproveite o tempo presente porque o amor de seu filho em um futuro bem próximo vai ser dividido em muitas partes. O nosso, de pai, será sempre o mesmo, honesto e intenso, mas as vicissitudes da vida atrapalharão muito nosso relacionamento e jamais você receberá novamente o amor puro de seu filho. Você sempre me deu felicidade, jamais me abandonou e me ama acanhadamente bem do seu jeitão que eu adoro. Te amo

Raul Claudio Baptista

A História das Histórias


Foi preciso que durante muitos anos o mofo se acumulasse nas (tralhas) e bagunças dos objetos guardados aqui e ali, sempre com desprezo e resmungas dos que com eles conviviam. Foi preciso levá-los onde havia espaço emprestado e acumulá-los nos baús, armários e gavetas. Guardá-los longe dos ratos e baratas e agüentar os torcimentos de narizes dos insensíveis ao vê-los. Foi preciso agüentar a curiosidade de apenas ver inúmeros negativos históricos, e não revelá-los para não perder a exclusividade de possuí-los. - Posso tirar uma cópia para mim? Diziam nos laboratórios fotográficos. Só agora começo ver os positivos. Ninguém pode duvidar a capacidade, sensibilidade e visão futurística do vovô Antônio, ao registrar com maestria fotos maravilhosas das construções do Pacaembu, Av. Nove de Julho, Viaduto do Chá, a reforma do Vale do Anhangabaú, e tantos outros pontos da cidade de São Paulo, já com um pensamento fantástico para aquela época como que adivinhando que a cidade se tornaria num futuro próximo uma das maiores do mundo.

Foi preciso um orgulho muito grande do tio Henrique o primeiro filho (1901-1974), do Antônio o primeiro neto e a minha, confesso, para guardar isso tudo por mais de 60 anos, sem contar o tempo que ficaram com o vovô. Valeu a pena.

Hoje, no ano de 2008, depois de com muito sacrifício desde o primeiro, conseguir adquirir um computador moderno, é que faço disso tudo um real proveito. Infelizmente a história fica meio sem pernas visto que quase não ficou ninguém para contá-la. Ficaram os registros fotográficos, e muitos, que poderão passar para nós o clima de alegria ou tristeza do momento do Clic.

Bem! Depois de todos esse anos, depois de fazer uma avaliação de ter em meu poder, entre negativos e positivos, de quatro a cinco mil fotos, me pergunto:- Quem é minha família? Onde ela está? Quem são seus componentes? Porque, do Antônio e Carolina, até os dias de hoje ela cresceu, se espalhou pelo Brasil afora e foi sumindo. Uma parte dela está desaparecida e como não existe um centro de convergência, não existe também um ponto de encontro, fazendo que a distância entre duas pessoas seja exatamente iguais. Eu estou tão sumido do Luiz Henrique de Florianópolis, da Edithe de Maceió, quanto eles de mim.

Mas não é essa a idéia que faço da separação. A nossa dispersa família está tão separada quanto as estrelas no céu. Ninguém sabe nada de ninguém. Parecemos OVNIs que aparecem vez por outra. Somos uma constelação de estrelas e entre elas existe muito mais que a distância do tempo-espaço. A distância que nos separa é a do esquecimento e da indiferença. Ainda não fomos descobertos, portanto, não constamos nos mapas das constelações do universo. Somos mais uma estrela cadente(um meteoro) que risca os céus de nossas vidas e no contato com a atmosfera se desintegra.

Quase só nos encontramos em acontecimentos sociais ou, mais precisamente, quando uma estrela deixa de existir. Como bom e triste exemplo disso, foi preciso que o tio Armando (quase meu segundo pai na infância) estivesse a beira da morte para que eu pudesse vê-lo ainda com vida depois de cinco anos. Somente eu o vi pois ele não enxergava mais nada. Tive sorte porque muitos, só o viram no caixão, muitos souberam de sua morte muitos dias depois, outros nem sabem que ele existiu. Era um homem fantástico, bom e paciente e durante muitos anos o baluarte da família toda. Muitas pessoas dizem: -Você é o tio Armando escrito. Parece filho dele! - Confesso que quando isso acontece sinto o maior orgulho.

Apesar de na nossa concepção estarmos tão longe uns dos outros, se compararmos a distância entre a terra em que vivemos, com a última das 40 bilhões de galáxias descobertas ultimamente pelo mais moderno telescópio, concluiremos que esta distância é insignificante.

Estarmos todos juntos é um sentimento que me invade a alma e me conforta, apesar de saber que tudo não passa de um tremendo devaneio. Como sonhador é que encontro uma forma de, às vezes, sonhar em estar perto de todos.

Quem sabe com esse livro eu possa tornar o sonho em realidade, colocar definitivamente nossa constelação no mapa astral e encurtar as distâncias com as medidas do interesse e do amor.


Raul Claudio Baptista

Jornal de Notícias - Bomba Atômica


Como seria ler uma notícia de jornal depois de 67 anos? Ainda mais falando de uma arma nuclear que não tinha sido inventada? Falando da II Guerra Mundial em pleno andamento? A seguir, texto na íntegra do, “DIÁRIO DE NOTÍCIAS” de Porto Alegre, de agosto de 1942.

“NOVA YORK, AGOSTO DE 1942 - Murray Teig Bloom

Imaginemos uma substância com poder explosivo tão grande que uma bomba de 10 libras (4,5K) possa abrir um buraco com 25 milhas (40 Km) de diâmetro e mais de uma milha (1.600mts) de profundidade, e destroçar qualquer construção num raio de cem milhas (160 Km). Pensemos num metal mágico, com tanta energia potencial que uma peça de cinco libras, apenas com 10% de pureza, possa ser usada para manter através dos oceanos, sem reabastecimento, durante meses, couraçados e submarinos.
Pois isto não se encontra absolutamente além do reino da possibilidade!
Em conseqüência de trabalhos executados em laboratórios cuidadosamente guardados, por todo o mundo, há todas as probabilidade de que a força atômica, barata e quase inexaurível, possa ser posta a disposição do homem, graças a um metal pesado, conhecido pelo nome de Uranio-235. Há aqueles que acreditam que o U-235 desempenhará um papel importante e talvez decisivo nesta guerra. Não explicará ele, porventura, a presente ação dos submarinos alemães na costa oriental das duas Américas?
Na verdade, o mundo teve um dia de terror em fevereiro de 1941, quando rumores cuidadosamente manufaturados partiram da Alemanha, insinuando que os cientistas do Terceiro Reich haviam, finalmente aperfeiçoado uma bomba com a energia atômica do urânio, teoricamente dois milhões de vezes mais poderoso do que uma bomba comum de peso igual. Naturalmente, isto deve ter sido uma audaz mistura de pensamento utópico e de tática nazista de mexer com os nervos do inimigo. Se eles possuíssem uma arma assim, não teria sido necessário dizer uma só palavra. Uma cidade inglesa arrasada até o chão teria feito tudo. E é igualmente pura especulação a hipótese destinada a explicar os atuais afundamentos de navios mercantes nas costas do nosso hemisfério.
Para os cientistas norte-americanos empenhados na obra secreta de isolar o U-235, seu valor está em seu grande potencial industrial. Mas eles admitem que, uma vez isolada quantidades suficientes da substância, ela poderá ser usada, com muita eficiência, como o explosivo mais mortal da história. E, as portas fechadas, continuam as pesquisas fabulosas.
Felizmente, este é um campo onde temos uma clara superioridade numérica sobre os nazistas. Possuímos um número relativamente grande - 25 - de ciclotrons, os instrumentos chave na criação da força atômica. Estas máquinas, uma espécie de “britadeiras” de átomos, geram partículas de uma terrível quantidade de energia chamadas neutronios, as quais, quando arremessadas a um alvo de urânio, despedaçam-no. O estilhaçamento do átomo de urânio cria energia atômica.
Os físicos norte-americanos duvidam que o problema possa ser resolvido dentro de uma década. Mas os alemães, que possuem 11 ciclotrons, estão necessitando terrivelmente de uma poderosa arma. Como pode ser utilizado como terrível explosivo e como combustível para submarinos, aviões, tanques, o U-235 seria a resposta.
Há tremendos problemas no caminho, naturalmente, mas a guerra produz milagres científicos. Frits Haber, num momento critico, não descobriu acaso o processo de fixação do nitrogênio, que permitiu a Alemanha continuar a primeira Guerra Mundial com nitratos artificiais baratos para explosivos? Hoje, a Alemanha aspira a um milagre como o de Haber.
Lise Meitner poderia ter realizado esse milagre para a Alemanha – mas não para uma Alemanha governada pelos nazistas. Efetivamente, tal como Haber antes dele, Lise Meitner é “não-ariana”.
Durante vinte anos esta solteirona simples de 61 anos de idade, desempenhou um papel vital numa comissão de pesquisa considerada em todo o mundo por suas sólidas realizações na física atômica. Quando as sua pesquisas tomavam certo avanço, houve um incidente relativamente insignificante com Lise Meitner. Uma corte racial alemã decretou que ela era “não-ariana”. A partir de então, a vida se lhe tornou insuportável na Alemanha nazista. Decidiu ir para a Suécia. Numa noite de janeiro de 1939, o Expresso de Estocolmo saiu de Berlim com a solitária anciã. Em Sasenitz, envolta pela cerração, ela foi conduzida a um pequeno compartimento da estação onde uma funcionária da alfândega lhe ordenou que se despisse, para a busca. Não podia levar mais de dez marcos. Nenhum apontamento. Nenhum segredo militar. Mas era tarde, e a funcionária aduaneira, uma velha, estava com sono. E o caderno de notas de Fraulein Meitner, com os resultados de seus dez anos de pesquisa, contendo a pista básica para um novo destino do mundo, saiu para fora da Alemanha.
Partindo dos estudos de Lise Meitner, os cientistas descobriram que, para obter um fornecimento contínuo de energia, era necessário ter certo tipo de urânio, agora conhecido pelo nome de urânio-235. Contudo, em cada 140 libras de urânio comum, há apenas uma libra de U-235 puro. O processo para isolar esta substância preciosa é penosamente lento e, hoje, todo o U-235 da América poderia ser colocado numa moeda de 10 centavos, e ainda sobraria muito espaço. O objetivo atual é a produção em massa de U-235.
As fontes da matéria prima, a carnotita e a pitchblenda, estão localizadas principalmente em território aliado, embora se encontrem certas quantidades na própria Alemanha. Grandes e ricos veios de pitchblenda, que também se reduz a radio, se encontram na região do lago Grande Urso, no noroeste do Canadá e no Congo belga. A carnotita é encontrada no Colorado.
Evidentemente a descoberta de um meio prático para obter grandes quantidades de U-235 revolucionaria a industria e o transporte norte-americano. A indústria de carvão se transformaria em uma gigantesca peça de museu. A conta de energia nacional, de cerca de três bilhões de dólares por ano, ficaria reduzida a uma fração disso. Os automóveis teriam um abastecimento permanente de combustível, automático... E o céu será nosso limite, se pudermos obter bastante U-235 – e se pudermos obter antes que os nazistas o façam.
Muitos cientistas norte-americanos acham que o problema entrará no caminho da solução com a gigantesca “britadeira” de átomos de 4.900 toneladas, que está sendo construída na Universidade da California. Provavelmente, será capaz de transmutar qualquer elemento, inclusive o urânio. Se o U-235 pudesse ser obtido do U-238, mais comum teríamos já a resposta. É possível que em 1948, este superciclotron esteja pronto para a prova histórica.
Enquanto isso, algumas das inteligências norte-americanas mais agudas continuam o seu trabalho em torno do grande problema, inteiramente conscientes de que o sucesso significa a morte quase certa. As irradiações do U-235 provavelmente matarão os experimentadores, a não ser que um escudo seja descoberto, para protegê-los contra os raios. Os pioneiros dos raios X morreram assim também,
E enquanto isso, em Estocolmo, a serena Lise Meitner, que acendeu a centelha de uma revolução científica que certamente mudará a história do homem continua as suas experiências também.
Aos 61 anos a morte é uma questão sem importância”.

HISTÓRIAS DE FAMÍLIA - MIRIAN




A Mirian, filha do tio Henrique, depois que ficou viúva, de vez em quando vem a São Paulo. Apesar do irmão, o Pedrinho morar por aqui, costuma hospedar-se na casa da tia Esther.

A nossa família é caracterizada por pessoas, como vamos dizer, “um pouco atrapalhadas”. O tio Dante era assim, a Mirian é assim; a Cida minha irmã é assim e, a tia Esther, é a rainha das atrapalhadas. Talvez por isso as duas se davam tão bem.

Um dia, nestes em que a prima passeava por Sampa, o Pedrinho ligou para a casa da Cida (na tia Esther não tem Telefone) comunicando que a sua sobrinha de Florianópolis (filha do Luiz Henrique) mais o marido, viriam passar uns dias em sua casa no bairro da Casa Verde.

Devido a distância que nos separam a todos essa era uma das raridades para conhecê-los. Como não fui convidado, não fui, mas a dupla Mirian-Esther ficaram radiantes de alegria pelo convite e se prepararam para o encontro.

No dia marcado(na casa da Cida) ligaram para o Pedrinho para acertarem os últimos detalhes.

CENA: Na sala estavam a Mirian ao telefone falando com o Numar (filho do Pedrinho), a tia Esther controlando a conversa e, a Cida marcando em um papel o que a Mirian transmitia.

CONVERSA: -...sabe Numar, nós temos de tomar o metrô e descer onde? ... Ah! Na Barra Funda! - Anota aí Cidinha! - Descer na Barra Funda, e esperar você? - Vai anotando Cida! - Você vai estar com o que? Ah! Um gorro azul celeste... gorro azul celeste Cida!

Tia Esther: - Anota tudo direitinho Cidinha senão a gente se perde!

Cida: - To anotando tia! Pode deixar!

Mirian: - Olha Numar! Eu estou com uma blusa branca com umas coizinhas pretas! Tá bom? - Nós vamos pegar o metro às treze horas, no máximo treze e trinta estaremos na Barra Funda! Um beijo!

E lá foram as duas. Pegaram o metro e chegaram no horário. No terminal da estação dirigiram-se para o terminal dos ônibus e começaram a procurar o rapaz de gorro azul celeste.

Dez minutos e, nada. Meia hora e, nada ainda. Uma hora e, nadinha dele aparecer. Ninguém com o gorro azul celeste.

Foi então que a Mirian resolveu abordar algumas moças e perguntar, se fosse com elas, onde marcariam o encontro? Contou detalhadamente o ocorrido e esperou uma resposta.

- Olha! Se é como eu entendi, eu esperaria na avenida que fica do lado de fora do terminal do metro! Vocês vão ter que sair daqui para ir para a Casa Verde, não é? O melhor seria mesmo do lado de fora!

Havia um pipoqueiro por perto – Meu senhor, eu vou ter que sair até ali fora! Se por um acaso aparecer um rapaz com um gorro azul, diz que a tia dele já volta! Me faz esse favor pelo amor de Deus!

Agradeceram e depois de perguntas e informações daqui e dali chegaram na tal avenida. Uma olhava para um lado, a outra para o outro a procura do moço de gorro azul celeste.

O que se entende é que nem elas conheciam ele, nem ele as conheciam.

Mais vários intermináveis minutos e, nada, nadinha.

De repente um rapaz que já estava por ali pergunta: - Tia Mirian? A senhora não é a tia Mirian? Eu sou o Numar, to esperando vocês a mais de uma hora!

- Nós já estamos aqui a mais que isso! Você disse no terminal de ônibus e que vinha com gorro azul celeste! Cadê o gorro?

- Não tia! Eu disse fora do terminal e que vinha de Gol azul celeste! Gol azul celeste! Meu carro, é um Gol azul celeste, entendeu?

- Desculpe Numar! É que eu sou tão atrapalhada!

Não sei bem, mas acho que o encontro familiar na casa do Pedrinho foi normal.

Raul Claudio Baptista - Setembro de 1996