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A nossa turma de amigos de infância, se encontra anualmente há vinte anos. Chama-se “Turma do Largo”
De vinte ou trinta componentes iniciais (os verdadeiros) hoje são mais de cem. Passei uma peneira naquela massa, separei os grande amigos e começamos a fazer um outro encontro numa chácara em Sorocaba. O texto é cheio de metáforas e espero poder ser compreendido.
O céu estava carrancudo, coberto de nuvens que desabavam vez por outra molhando toda a terra. Parece que isso começava a tornar-se uma constante. Era o Square Group que aproximava-se.
Depois de um breve estudo sobre o que estava acontecendo, depois de eu começar a lamentar que o céu encoberto não nos deixaria ver o espetáculo de sua passagem é que percebi o que de fato ocorria.
Mesmo sem entender de astronomia, mas sentindo os impulsos em meu coração, em dado momento, senti e vi seus elementos de composição. Concluí que ele não passaria no universo perto do sol nem próximo da terra. Ele estava era dentro de sua atmosfera. A idéia loucamente romântica de ver novamente seus componentes misturados às gotas de água que caíam, confundiam-me a ponto de não saber se estávamos no solo ou num “Pedacinho do Céu” qualquer, se éramos a massa ou sua calda reluzente, se a música que ouvia era tocada por anjos ou vinha de um “três em um” que eu julgara ligado à rede elétrica. Nós éramos o Cometa agora. Havíamos sidos incorporados novamente em suas estruturas e por três dias deslumbraríamos os que tem a capacidade de observar, sentir e principalmente... amar. Vê-lo, não é uma atividade física ou mental. Ele habita outra dimensão que só os que estão preparados podem atravessá-la. Agora éramos astronautas incomuns, que preparados por trinta e cinco anos na amizade capacitaram-se para esse tipo de aventura. Percebi que ali estavam uma mistura do corpo celeste, tripulantes e nave espacial formando o ESQUARE GROUP, O COMETA.
Aos que não fazem parte dele, sabem de sua existência mas não conseguem vê-lo, vou procurar relatar sua nova aparição sem ser repetitivo, visto tratar-se de uma trajetória quase igual a primeira, não fosse o acontecimento de algo incomum juntando-se a nós, vindo do céu.
Estou emocionado e não consegui dormir de sexta para o sábado. O Enio e o Carlinhos enriqueceram sobremaneira a nossa turma. O Miguel é o nosso pai. Tem tanto carinho com todos a ponto de beijarmos sua bochecha pelo menos duas vezes ao dia. Algumas pessoas exprimem mais seus sentimentos, outros são mais reservados. Alguns cantam mais, outros bebem mais, outros falam mais. As músicas são trocadas em quantidades absurdas, tal a euforia de cada um querendo tocar suas preferidas. A cada - Essa é linda! - o volume é aumentado e nós vamos conversando, falando cada vez mais alto. Gradativamente vou ficando rouco.
São onze e trinta, o Gilberto e o Zé da Farmácia foram a Sorocaba comprar as carnes, a churrasqueira ainda não foi acesa. O Veronezzi falou comigo ao telefone sexta pela manhã afirmando seu comparecimento dizendo levar junto o Quevedo.
De repente o som de um helicóptero me faz vir a mente cenas do filme de 1979 de Francis Ford Coppola “Apocalypse Now”. Os soldados entrincheirados no Vietnã escutam as pás do aparelho aproximando-se para salvá-los. O som vem num crescente, as árvores que os rodeiam balançam mais fortemente e numa tomada de camera a partir do solo surge magnificamente o helicóptero. O som vai ficando ensurdecedor, o vento das hélices parecem arrancar o próprio chão. Vem descendo, balançando a cauda como que medindo as dimensões do campo de pouso, para finalmente colocar suas bases em terra firme.
Não éramos os soldados, mas nossos êxtases ao vermos sua descida talvez tenha sido muito semelhante. Foi quase indescritível o que sentíamos quando vimos descer do aparelho, o Veronezzi. Não que nunca tivéssemos visto um helicóptero, eu mesmo já havia voado muitas vezes. É que jamais esperávamos que ele chegasse dessa forma. Eu o havia convidado há vinte dias e apesar de seus últimos telefonemas eu não tinha tanta certeza. Ele estava honrando um compromisso. Ele era um de nós que deu muito certo, e em cada um havia estampado um orgulho, como se tivéssemos contribuído em uma parte para o seu sucesso. Era também o nosso único amigo que possuía tal meio de condução. Muitos antes, também tiveram sucesso, mas ao adquiri-lo, não nos deram a chance de compartilhar-mos.
Realmente não sei se conseguirei descrever aquele momento. Só mesmo o Esquare Group foi capaz de proporcionar esse momento inesquecível.
Nosso companheiro, acostumado a tantas badalações, emocionado também, mais parecia um garoto mostrando aos seus amiguinhos a bicicleta que ganhara do Papai Noel. E é claro, todos nós queríamos dar uma volta e umas pedaladas. Fomos atendidos sem precisar pedir. Foram três ou quatro decolagens nos tirando daquela dimensão para estourarmos de saúde e alegria no céu como um pássaro dono de seu próprio destino. A linha do horizonte tornou-se ainda mais distante para melhor sentirmos os tamanhos da nossa velha terra. Muitos puderam perceber exatamente o que torna a dimensão que vivíamos tão diferente do mundo exterior. Não sei. Mas é qualquer coisa que a gente nunca esquecerá.
Na terra, a mistura de nossas vozes, o crepitar do carvão, a música de fundo, as risadas, as gargalhadas, as tagarelices... E tudo isso se funde no ruído da liberdade, algo que nunca se ouve até que deixa de existir.
A tardinha, o Veronezzi pede ao comandante que ligue o aparelho para mais uma decolagem. Nela iriam os que ainda não tinham voado, as filhas do caseiro da chácara vizinha, duas meninas que mau andavam de carro, eu recusava ir pela segunda vez confessando medo do pouso e da decolagem.
O helicóptero voltou trazendo os alegres tripulantes, não desligou seus motores nem o comandante desceu. Sentimos que era a hora da partida.
O Veronezzi pediu para que nos reuníssemos num círculo de mãos dadas. Ao som distante da nave que o levaria, disse:
- Eu amo todos vocês! Obrigado por vocês existirem! Pelas nossas amizades duradouras eu quero agradecer a Deus na oração do Pai Nosso! Não vou esquecer esse dia! Nos veremos dia quatorze de dezembro novamente, não vou faltar! Deus esteja com todos vocês!
Rezamos, nos abraçamos, nos beijamos e sem que ninguém falasse mais nada o acompanhamos até o helicóptero. O motor girava a não sei quantos giros por minutos, já pronto para a decolagem. O Veronezzi sentado no banco traseiro apertava suas duas mãos contra o coração e as estendia apontando repetidas vezes para cada um de nós.
A ventania tornava-se novamente violenta tal a proximidade nossa do aparelho. Ele levantou, ganhou altura, distanciou-se uns três quilômetros da chácara, virou e passou novamente por nós num vôo razante e a toda velocidade. Era a saudação que os aeronautas costumam fazer na partida.
Caminhamos em silêncio para a churrasqueira, nossa base de alimentação e suprimentos, profundamente emocionados. Havia uma comoção geral. Nos dividimos em grupos e não pude escutar o que diziam. Num canto da parede, sentados, vi o Enio, o Tatuzinho e o Miguel chorando. Eles limpavam as lágrimas que corriam de seus olhos. Não sei o que os levou a tal procedimento nem quis perguntar.
“Há poucos seres no mundo que não possuam de qualquer maneira certo anseio espiritual, o sentimento íntimo, não formulado embora, de que existe uma Força Suprema para a qual se volvem instintivamente.”
O Veronezzi nos colocou bem perto dessa Força, desse fenômeno espiritual que nos estende as mãos, nos coloca mais perto do Criador e através do amor, em momentos extremos somos levados ao sentimento da maneira mais intensa. O momento foi o da mais pura amizade.
Pude retratar-me olhando fixo as pessoas e avaliar meus sentimentos sobre cada um. Diferenciei os que ali estavam apenas para se divertir não importando a companhia. Apenas desfrutavam de uma festa como outra qualquer e nela passavam o tempo. Vi nos olhos de outros o verdadeiro motivo do encontro em que a festa era apenas um mero complemento para embalar sua vontade de matar a saudade dos velhos e queridos amigos.
No domingo, as nuvens foram dissipando-se e o Cometa começou a ir embora. Aos poucos seus elementos hesitantes iam se diluindo, evaporando, formando uma grande massa de nuvem negra que desabou sobre a terra com a saída dos últimos. Suas águas não conseguiu apagar as pegadas que deixamos no solo e ainda paira no ar de Sorocaba o ronco do helicóptero. Nas gramas amassadas dos pastos pode se ver os cristais de gelo da cauda do ESQUARE GROUP.
Por Raul Claudio Baptista
Antônio Veronezzi é dono e reitor da UNIVERSIDADE DE GUARULHOS - SÃO PAULO
Descobri Calico no caminho entre Los Angeles e Las Vegas, em pleno deserto de Mojave. Diversas cidades americanas surgiram no oeste durante a chamada Corrida do Ouro da California, quando lá foram descobertos ouro e prata. Calico foi um destes lugares, e chegou a ser a maior mina de prata do sul da California. No primeiro ano da Corrida da California, cerca de 250 mil dólares em ouro foram extraídos do solo, uma soma assombrosa para valores da época. No seu auge, Calico teve 3.500 habitantes, uma população considerável levando em conta sua localização, no meio da terra de ninguém do deserto de Mojave, quase na divisa entre os estados da California e Nevada.
Calico tinha casas, lojas, escola, corpo de bombeiros, capela e tudo mais, inclusive Chinatown, o seu bairro chinês, onde moravam os 40 trabalhadores chineses da mina que existia nesta cidade. A cidade também tinha, é claro, um saloon, dirigido por uma certa madame De Lill, dama de reputação não muito lisonjeira....
Não espere encontrar muita beleza natural nesta parte da California. Tudo em volta é um deserto só, uma terra completamente sem atrativos, marrom e seca. Se alguém ainda passa por aqui é apenas devido à proximidade da auto estrada A15, que liga Los Angeles à Las Vegas, e dos dois grandes outlets - malls de ponta de estoque existentes na cidade de Barstow, não muito distante de Calico, e que atraem muita gente, turistas inclusive. Aventureiros à procura dos lugares perdidos do deserto de Mojave também são visitas freqüentes da cidade. Reparem no alto do morro que aparece com o nome Calico pintado com letras brancas. Dá para ser visto da A 15.
Quando a prata que era extraída da mina de Calico acabou, a cidade foi praticamente condenada à morte. Não havia mais nenhum motivo para alguém continuar morando neste fim de mundo. A cidade foi abandonada, esvaziou e morreu. Ficou esquecida durante muito tempo, até ser novamente redescoberta e transformada num tipo de atração turística ao estilo do velho oeste. Hoje Calico é uma das poucas cidades fantasmas americanas que, pode-se dizer, renasceu. Diversas pessoas visitam a cidade todos os dias, e principalmente aos fins de semana acontecem shows onde artistas encenam duelos em suas ruas empoeiradas. Há também passeios de carroças e outras atividades típicas daquela época.
De uns tempos para cá as construções de Calico foram restauradas, mantendo-se suas características originais. Agora é novamente possível fazer compras na loja de suprimentos, uma refeição no restaurante local, e sentir o clima de estar numa autêntica cidade do velho oeste americano, com a diferença de saber que aquilo não é apenas mais um parque temático artificial, mas sim uma cidade verdadeira, com muitas histórias para contar.
O oeste americano tem uma imensidade de cidades fantasmas, algumas que nem constam dos mapas, outras que constam mas não tem qualquer atrativo, restam apenas escombros. Calico é sem dúvida uma das mais interessantes. Quando passai por lá a caminho de Las Vegas já era final da tarde, e poucas pessoas ainda caminhavam pelas ruas. Apenas o vento nos acompanhou todo o tempo, o que tornou nossa visita ainda mais instigante.
A própria localização da cidade, em pleno deserto, rodeada por morros de pedra avermelhada, e com o vento sempre soprando, são um convite a deixar nossa imaginação viajar por aquelas ruas, e nos dão a estranha sensação de que alguém nos espreita por uma janela.
Calico fica apenas a duas horas de carro de Los Angeles, três milhas ao largo da auto-estrada I-15, principal ligação de LA com Las Vegas. Se você estiver passando por esta região, preste atenção quando se aproximar de uma cidade chamada Barstow. O acesso até Calico é feito por uma estradinha secundária, que começa 6 milhas depois de Barstow, no sentido de Los Angeles para Las Vegas. É uma visita interessante, e que vale a pena ser feita.
Inspirado no Massimo, de Massimo Ferrari na Alameda Santos, o Minnimo, de Minnimo Minardi na Vila Aricanduva é um luxo.O Minnimo pensou em tudo. No fundo de sua casa situada na rua Projetada, sem número, fundos, ele construiu com blocos de cimento, um restaurante que é uma gracinha. Seis lugares, (duas mesas com tres cadeiras); fecha no almoço das 12:15h, e abre das 19:20h. O estacionamento é para um veículo e só serve para carga e descarga de passageiros. Como é a única edificação da rua, você pode estacionar tanto na própria rua como nos terrenos baldios vizinhos. O telefone de recados é o 999-4768. O cardápio é farto e varia de acordo com que a familia come no almoço. Nas mesas, toalhas de Linholene e decanso de panelas quentes, de galalite. O piso, de vermelhão encerado, é ricamente forrado com folhas de jornais do dia, o que possibilita aos frenquentadores jantar e ler as últimas notícias. No canto oposto da entrada, um magnífico Rádio-fonógrafo Victrola com mudança de disco “Roll-out” (sistema expelidor) com capacidade para discos de 25cm e 30cm, toca as músicas e alegra o ambiente. A cobertura do telhado é de telhas de cimento amianto, o que torna o ambiente quente e gostoso. Quem inventa os pratos é Dona Minusculla, esposa do Minnimo. Possui trinta brochuras com receitas inéditas, que resolvemos editar em livros e passá-las aos nossos leitores. A de hoje é:
TORTA DEMORADA
Depois de ler a receita espere 15 dias para começar.
COMEÇO
Fazer a massa de Torta Rápida e deixar parada por seis dias até atingir o X (para saber qual é o ponto X, escreva para Caixa Postal 6743 e espere a resposta).
Agora que você já sabe qual é o ponto X, unte uma fôrma triangulada com manteiga desnatada e espere derreter naturalmente (geralmente ela derrete num dia bem quente). Depois espalhe-a sobre a fôrma e coloque a massa. Recheie com a receita nº 67 do livro que lançaremos em meados de abril do próximo ano e leve ao forno depois de usar os segredinhos da receita nº 9 da primeira edição do “ Livro de Receitas de Dona Benta” de 1951. Para sentir todo sabor da torta, coloque-a em forno frio por 2 horas. O sabor é incrível! Procure provar!
Custô mas conseguiu a Teresa
sê muié de sordado!
Ela gosta de ficá presa
nos braço do seu amado!
Há tantas lombadas nessa cidade,
que em caso de guerra, servirão de abrigo.
O povo terá facilidade,
de se esconder do inimigo.
O pai da Conceição
acabô de fazê bestera.
Ponhô um lampião
bem em riba da portêra.
Destes tanto leite às criancinhas
mas, malditos te arrancam o couro.
Quando te faltar o leite vaquinha,
teu destino é o matadouro.
Fui visitá a cumadi
cum a mió das intenção.
Di longe avistei o cumpadi
i vortei num carrerão.
Da inté vontade de da risada
quando Nha Rita bate pilão.
Os peito dão uma impinada,
i na vorta bate no chão.
O sujeito entra no prédio com toda proteção.
Vai direto para o seu aposento.
Era apenas a Casa de Detenção,
era apenas mais um detento.
Foi preciso que durante muitos anos o mofo se acumulasse nas (tralhas) e bagunças dos objetos guardados aqui e ali, sempre com desprezo e resmungas dos que com eles conviviam. Foi preciso levá-los onde havia espaço emprestado e acumulá-los nos baús, armários e gavetas. Guardá-los longe dos ratos e baratas e agüentar os torcimentos de narizes dos insensíveis ao vê-los. Foi preciso agüentar a curiosidade de apenas ver inúmeros negativos históricos, e não revelá-los para não perder a exclusividade de possuí-los. - Posso tirar uma cópia para mim? Diziam nos laboratórios fotográficos. Só agora começo ver os positivos. Ninguém pode duvidar a capacidade, sensibilidade e visão futurística do vovô Antônio, ao registrar com maestria fotos maravilhosas das construções do Pacaembu, Av. Nove de Julho, Viaduto do Chá, a reforma do Vale do Anhangabaú, e tantos outros pontos da cidade de São Paulo, já com um pensamento fantástico para aquela época como que adivinhando que a cidade se tornaria num futuro próximo uma das maiores do mundo.
Foi preciso um orgulho muito grande do tio Henrique o primeiro filho (1901-1974), do Antônio o primeiro neto e a minha, confesso, para guardar isso tudo por mais de 60 anos, sem contar o tempo que ficaram com o vovô. Valeu a pena.
Hoje, no ano de 2008, depois de com muito sacrifício desde o primeiro, conseguir adquirir um computador moderno, é que faço disso tudo um real proveito. Infelizmente a história fica meio sem pernas visto que quase não ficou ninguém para contá-la. Ficaram os registros fotográficos, e muitos, que poderão passar para nós o clima de alegria ou tristeza do momento do Clic.
Bem! Depois de todos esse anos, depois de fazer uma avaliação de ter em meu poder, entre negativos e positivos, de quatro a cinco mil fotos, me pergunto:- Quem é minha família? Onde ela está? Quem são seus componentes? Porque, do Antônio e Carolina, até os dias de hoje ela cresceu, se espalhou pelo Brasil afora e foi sumindo. Uma parte dela está desaparecida e como não existe um centro de convergência, não existe também um ponto de encontro, fazendo que a distância entre duas pessoas seja exatamente iguais. Eu estou tão sumido do Luiz Henrique de Florianópolis, da Edithe de Maceió, quanto eles de mim.
Mas não é essa a idéia que faço da separação. A nossa dispersa família está tão separada quanto as estrelas no céu. Ninguém sabe nada de ninguém. Parecemos OVNIs que aparecem vez por outra. Somos uma constelação de estrelas e entre elas existe muito mais que a distância do tempo-espaço. A distância que nos separa é a do esquecimento e da indiferença. Ainda não fomos descobertos, portanto, não constamos nos mapas das constelações do universo. Somos mais uma estrela cadente(um meteoro) que risca os céus de nossas vidas e no contato com a atmosfera se desintegra.
Quase só nos encontramos em acontecimentos sociais ou, mais precisamente, quando uma estrela deixa de existir. Como bom e triste exemplo disso, foi preciso que o tio Armando (quase meu segundo pai na infância) estivesse a beira da morte para que eu pudesse vê-lo ainda com vida depois de cinco anos. Somente eu o vi pois ele não enxergava mais nada. Tive sorte porque muitos, só o viram no caixão, muitos souberam de sua morte muitos dias depois, outros nem sabem que ele existiu. Era um homem fantástico, bom e paciente e durante muitos anos o baluarte da família toda. Muitas pessoas dizem: -Você é o tio Armando escrito. Parece filho dele! - Confesso que quando isso acontece sinto o maior orgulho.
Apesar de na nossa concepção estarmos tão longe uns dos outros, se compararmos a distância entre a terra em que vivemos, com a última das 40 bilhões de galáxias descobertas ultimamente pelo mais moderno telescópio, concluiremos que esta distância é insignificante.
Estarmos todos juntos é um sentimento que me invade a alma e me conforta, apesar de saber que tudo não passa de um tremendo devaneio. Como sonhador é que encontro uma forma de, às vezes, sonhar em estar perto de todos.
Quem sabe com esse livro eu possa tornar o sonho em realidade, colocar definitivamente nossa constelação no mapa astral e encurtar as distâncias com as medidas do interesse e do amor.
Raul Claudio Baptista
A Mirian, filha do tio Henrique, depois que ficou viúva, de vez em quando vem a São Paulo. Apesar do irmão, o Pedrinho morar por aqui, costuma hospedar-se na casa da tia Esther.
A nossa família é caracterizada por pessoas, como vamos dizer, “um pouco atrapalhadas”. O tio Dante era assim, a Mirian é assim; a Cida minha irmã é assim e, a tia Esther, é a rainha das atrapalhadas. Talvez por isso as duas se davam tão bem.
Um dia, nestes em que a prima passeava por Sampa, o Pedrinho ligou para a casa da Cida (na tia Esther não tem Telefone) comunicando que a sua sobrinha de Florianópolis (filha do Luiz Henrique) mais o marido, viriam passar uns dias em sua casa no bairro da Casa Verde.
Devido a distância que nos separam a todos essa era uma das raridades para conhecê-los. Como não fui convidado, não fui, mas a dupla Mirian-Esther ficaram radiantes de alegria pelo convite e se prepararam para o encontro.
No dia marcado(na casa da Cida) ligaram para o Pedrinho para acertarem os últimos detalhes.
CENA: Na sala estavam a Mirian ao telefone falando com o Numar (filho do Pedrinho), a tia Esther controlando a conversa e, a Cida marcando em um papel o que a Mirian transmitia.
CONVERSA: -...sabe Numar, nós temos de tomar o metrô e descer onde? ... Ah! Na Barra Funda! - Anota aí Cidinha! - Descer na Barra Funda, e esperar você? - Vai anotando Cida! - Você vai estar com o que? Ah! Um gorro azul celeste... gorro azul celeste Cida!
Tia Esther: - Anota tudo direitinho Cidinha senão a gente se perde!
Cida: - To anotando tia! Pode deixar!
Mirian: - Olha Numar! Eu estou com uma blusa branca com umas coizinhas pretas! Tá bom? - Nós vamos pegar o metro às treze horas, no máximo treze e trinta estaremos na Barra Funda! Um beijo!
E lá foram as duas. Pegaram o metro e chegaram no horário. No terminal da estação dirigiram-se para o terminal dos ônibus e começaram a procurar o rapaz de gorro azul celeste.
Dez minutos e, nada. Meia hora e, nada ainda. Uma hora e, nadinha dele aparecer. Ninguém com o gorro azul celeste.
Foi então que a Mirian resolveu abordar algumas moças e perguntar, se fosse com elas, onde marcariam o encontro? Contou detalhadamente o ocorrido e esperou uma resposta.
- Olha! Se é como eu entendi, eu esperaria na avenida que fica do lado de fora do terminal do metro! Vocês vão ter que sair daqui para ir para a Casa Verde, não é? O melhor seria mesmo do lado de fora!
Havia um pipoqueiro por perto – Meu senhor, eu vou ter que sair até ali fora! Se por um acaso aparecer um rapaz com um gorro azul, diz que a tia dele já volta! Me faz esse favor pelo amor de Deus!
Agradeceram e depois de perguntas e informações daqui e dali chegaram na tal avenida. Uma olhava para um lado, a outra para o outro a procura do moço de gorro azul celeste.
O que se entende é que nem elas conheciam ele, nem ele as conheciam.
Mais vários intermináveis minutos e, nada, nadinha.
De repente um rapaz que já estava por ali pergunta: - Tia Mirian? A senhora não é a tia Mirian? Eu sou o Numar, to esperando vocês a mais de uma hora!
- Nós já estamos aqui a mais que isso! Você disse no terminal de ônibus e que vinha com gorro azul celeste! Cadê o gorro?
- Não tia! Eu disse fora do terminal e que vinha de Gol azul celeste! Gol azul celeste! Meu carro, é um Gol azul celeste, entendeu?
- Desculpe Numar! É que eu sou tão atrapalhada!
Não sei bem, mas acho que o encontro familiar na casa do Pedrinho foi normal.