segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Infartado


O INFARTADO

Engraçado o título do meu blog, “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”. Ele se justifica quando de repente por algum motivo, uma coisa qualquer me faz lembrar de um ocorrido e fico louco para transformar a lembrança em texto e não esquecer o fato.

Agora pouco, uns trinta minutos atrás, fui trocar o óleo do meu carro e o mecânico me alertou, quando tirou o adesivo do para brisa, que eu tinha rodado 20.000 km com o óleo para 10.000 km. Eu havia confundido os adesivos e fui rodando. Ofereceram-me um café e o serviço começou.

Mecânica, auto elétrico, borracheiro é um saco. Onde você coloca as mãos saem sujas de graxa e não tem o que fazer.

- Seu Raul, é bom trocar o filtro também porque, sabe comé, vinte mil... deve tá bem porco! Consenti, ele tinha razão.

Haviam vários carros na oficina, entre eles, no elevador, uma ambulância da prefeitura da cidade. Um Fiat Fiorino, que com as portas de trás abertas mostrava a maca e todo “conforto” daquele minúsculo transporte.

- Podia ser ela! Falei em voz alta. A amiga e dona do estabelecimento ficou curiosa com minhas palavras. Então expliquei: - É que uns quatro anos atrás, num dia calmo e tranqüilo eu e a Roseli minha mulher, fomos à farmácia do Zé Basílio e ela cismou em fazer o que a maior parte das pessoas de Monte Santo de Minas fazem nas farmácias: pedir para medirem a pressão arterial, é de graça. Eu confesso que detesto fazê-lo porque aprendi que o certo é a pessoa estar sentada, por pelo menos por cinco minutos, respirar fundo e aí sim fazer a medição, caso contrário ela é variável pra mais ou pra menos. Você está se movimentando, por vezes ofegante, cansado. Dito e feito, marcou 18 por 9. A Roseli apavorada queria que o Zé colocasse debaixo da minha língua um remédio em cápsulas (Adalat de 10mg) o qual você fura com uma agulha e espreme o líquido sob a língua regularizando melhor e mais rápido a pressão.

O farmacêutico disse que não tinha autorização para fazer aquilo e que nós fossemos à “magnífica” Santa Casa onde no Pronto Socorro cuidariam de mim.

Mais um deslocamento, deixei o carro um pouco longe, uma pequena caminhada, tiram a pressão; vinte por nove, tiram novamente; dezenove por dez. Preocupados fizeram que abrisse ficha e fosse examinado pela Dra. de plantão. Vou omitir o nome.

Alguma perguntas, olhares para os lados, mais perguntas ordena que a enfermeira fizesse um eletrocardiograma.

Estava agora em uma outra sala, sentindo-me muito bem. A enfermeira levou o eletro e fiquei sozinho por um tempo.

A Santa Casa é freqüentada, em sua maioria, pelo menos no pronto socorro, por moradores da zona rural. Você, ao passar nos corredores, vê diversos leitos preenchidos por pessoas idosas, encolhidas e em silêncio.

Bem. Ao meu leito volta a enfermeira, agora já com uma expressão de piedade, pede que eu tenha calma, não fique nervoso. Pega meu braço direito e começa a esfregar com suas mãos, um gesto que entendi como carinho.

Entra minha mulher e como a enfermeira repete os mesmos gestos pedindo que eu tenha calma. Por fim a Dra. fazendo a mesma coisa. Foi o único momento que fiquei preocupado. Porque todo esse carinho? Que estava acontecendo?

Diz a médica - O Sr. está tendo um infarto!Há algum cardiologista de sua confiança?

Indiquei o Dr. Pedro Paulo de Mococa, cidade vizinha o qual é o meu médico tanto para assuntos do coração como também clínico geral que cuida de mim e de minha diabete.

Pediu que me comunicasse com ele e que iriam remover-me em uma ambulância.

Enquanto providenciavam tudo fiquei pensando: Mas será isso o tal enfarto? Algo tão suave que eu nem percebia? Definitivamente comecei a duvidar do diagnóstico.

A Roseli pálida só me observava. Agora eu é que pedia calma dizendo que não estava sentindo absolutamente nada.

Pela porta entram agora, um homem empurrando uma cadeira de rodas, uma outra enfermeira e com as pessoas que já estavam presentes incluindo eu, éramos sete. Todos colocaram suas mãos em algum lugar do meu corpo para ajudarem a me sentar na tal cadeira. Eu queria ir sozinho, todos me pediam calma.

Fui conduzido até a porta do P.S. e colocado na ambulância, que podia ser “aquela”. A Roseli em pânico acomodou-se ao meu lado. Devia ser a primeira vez que ela entrava em uma ambulância e eu podia adivinhar seus pensamentos: “ A gente vive pedindo para ele se cuidar que um dia tinha que acontecer”. Na frente o motorista e uma enfermeira. Fecharam as portas da parte de trás e eu tive que encolher as pernas. Partimos.

Deitado, procurei acomodar melhor as pernas e para nossa surpresa as portas se abriram e quase acabei caindo. O carro para, fecham a porta e prosseguimos.

A maca tinha 1,70m e não sabia onde colocar os 0,10 cm que sobravam. Sentia-me como se estivesse naqueles carrinhos que correm esportivamente naquelas canaletas de gelo. Vi pela televisão várias vezes essa prática esportiva. Uma duas ou mais pessoas vão deitados no carrinho a toda velocidade, a cada curva são jogados para os lados, só levantam o pescoço como que numa defesa pessoal pudessem ver a tragédia que poderia acontecer e por vezes, acontecem.

Vou acalmando a Roseli afirmando não estar sentindo nada e me sentindo muito bem. Para distrair-me conforme os solavancos, vou dizendo ao motorista cada lugar que estávamos. Era noite, não via nada e de Monte Santo a Mocóca não errei nenhum.

Finalmente chegamos ao Hospital Santa Casa da cidade. Abrem as portas e aquele povo que fica perambulando em P.S. formam um aglomerado considerável. Cada paciente chega com cinco ou mais acompanhantes. O doente entra para se tratado e o resto fica sem saber o que fazer, fumando, batendo uma prosa e invariavelmente o assunto é doença.

Vieram no mínimo quatro pessoas para me tirar da ambulância. Por minha vez, resolvi descer sozinho sentei em uma cadeira de rodas e fui para um dos quartos do P.S.. Lá já encontrei o Pastor Luiz Henrique e meu primo Beto o qual chamo carinhosamente de Carlos Alberto Francisquini. Deitaram-me na maca e esperamos o meu médico, Dr. Pedro Paulo, cardiologista e morador e clínico de Mococa. Em alguns minutos chega o Dr. Olha para mim e diz:

- E aí Raul! Será que desta vez vou ter que te infernar? Trouxe o eletro? – Alguém passou para ele. Olhou, olhou, olhou e veio me examinar. Tira a pressão, escuta o coração, manda tossir e diz: - O coração está normal, a pressão está normal, o eletrocardiograma está normal, você não tem nada! Quem te mandou aqui? Foi um alívio geral e risadas nervosas. Menos a minha pois tinha certeza que não tinha nada.

- Não foi desta vez, disse o dr.! Um abraço Raul!

Coisas de Monte Santo e da Santa Casa que desta vez pecou por excesso e não por escassez. Para mim foi um ensaio de uma peça que jamais vou querer protagonizar.

Raul Claudio Baptista

4 comentários:

Martins Oliveira disse...

Salvo pelo Dr."PP"! Depois de uma certa idade, qualquer piscada diferente já é motivo de alarde. Fique frio, Cacau, pois só iremos quando o "Homem" nos escalar para o próximo jogo. Como somos ruins de bola, pode ter certeza que vai demorar, e muito...abraços.

Emerson Batista disse...

Olha...
Dei muita risada...
Não sei se da história ou de imaginar você contando... ou imaginar como tudo se deu...

Muito bom...

Cris Motta disse...

Cláudio...
Não sei quando aconteceu isso,mas consegui enxergar as cenas direitinho...e até os personagens sem nomes...ri demais!!!Só você mesmo!

Unknown disse...

Oi Cacau, visitei seu blog morri de rir só imaginando a situação, não conheço Monte Santo nem os personagens mas imaginei td e esse seu jeito de tirar sarro de td, muito bom.
Um abraço, até mais...